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A Arte da Revelação: História do Strip-Tease

Ele pode ser considerado como entretenimento adulto, dança exótica ou arte performática, a verdade é que o universo do stritpease é repleto de controvérsias, debates e dilemas. É uma performance empoderadora para alguns e questionável para outros. Eu, Tiaguinho Santos, diretor do Cabaret da Cecília te convido a desvendar essa arte, mergulhando em suas origens e evolução, desde as cavernas até os palcos contemporâneos.


imagens de Gypsy Rose Lee, a maior striper de todos os tempo


No cenário atual, um nome brilha com intensidade e sofisticação: Dita Von Teese. Ex-mulher do roqueiro Marilyn Manson, Dita é uma devotada fã de Bettie Page e das estrelas do teatro burlesco, e suas apresentações e figurinos são uma homenagem a essas pin-ups e lendas do strip-tease.

Já para o universo masculino, o sucesso estrondoso de bilheteria "Magic Mike" trouxe à tona a vida dos strippers homens nos EUA. E falando em cinema, o strip-tease foi tema de clássicos que moldaram a percepção da arte. Em "Striptease", de 1996, Demi Moore interpreta Erin, uma mulher que se torna stripper para conseguir dinheiro rápido e lutar pela custódia da filha. Mais recentemente, "As Golpistas" (2019), estrelado por Jennifer Lopez, retrata o strip-tease como uma oportunidade de independência financeira e poder. A personagem de Lopez, Ramona, exala empoderamento e consciência em suas escolhas.


Dita Von Teese, a striper que conquistou Las Vegas e o mundo
Dita Von Teese, a striper que conquistou Las Vegas e o mundo

A história do strip-tease é mais antiga do que se imagina, remontando a pinturas rupestres paleolíticas no sul da França, datadas de mais de 20.000 anos. Arqueólogos também encontraram estátuas de dançarinas exóticas do período Neolítico, nas regiões do Mar Negro. Nessas épocas, a dança exótica era usada para estimular sexualmente a mente e a alma, associada a rituais de fertilidade para invocar o favor das deusas e o aumento das colheitas.


Na Grécia e Roma antigas, o ato de despir-se evoluiu de um ritual para uma forma de arte e entretenimento. Performances ocorriam até mesmo em templos sagrados. Um exemplo notável é o da Imperatriz Teodora, esposa de Justiniano, o Grande, que, segundo a história, realizou um strip-tease recontando o mito de Léia e o Cisne.

mural encontro nas ruínas de Pompéia, soterrado há mais de 2000 anos
mural encontro nas ruínas de Pompéia, soterrado há mais de 2000 anos

A dança exótica, embora nem sempre sinônimo de strip-tease, começou a ser monetizada. As bailarinas de dança do ventre, por exemplo, atraíam multidões e dançavam por moedas, evidenciando a crescente demanda por esse tipo de espetáculo.

No século XVII, a Europa viu o surgimento de clubes de cavalheiros, burlescos e banquetes privados que transformaram a economia do strip-tease. Essa foi a era que catalisou o mercado da dança exótica como o conhecemos. Dançarinas aprimoravam suas performances com leques para aumentar o mistério e movimentos como o can-can, originário da França e popularizado nos EUA, que permitiam a revelação das pernas e roupas íntimas.


Josephine Baker, conquistou o mundo com sua dança exótica burlesca
Josephine Baker, conquistou o mundo com sua dança exótica burlesca

O marco zero oficial do strip-tease moderno é atribuído a uma noite quente de 1917, no pequeno National Winter Garden, em Nova York. A comediante Mae Dix, preocupada em não manchar seu figurino, despretensiosamente removeu a gola de seu vestido. A reação do público masculino foi instantânea e eufórica. Percebendo o furor, Mae continuou retirando os punhos e abrindo os botões de seu vestido. Foi aplaudida de pé, e o ato, considerado a primeira vez que uma mulher se despia sem uma desculpa "artística", estava oficialmente criado. Os irmãos Minsky, donos do teatro, rapidamente aproveitaram a oportunidade e cunharam a expressão "strip-tease" (despir-se provocando).

A pesquisadora Jessica Glasscock, em seu livro "Striptease – From Gaslight to Spotlight", argumenta que as raízes da arte se encontram nos primórdios dos shows de variedades e do burlesco do século XIX. Naquela época, a moral era rigidíssima. Para burlar as leis que puniam a "conduta obscena", diretores de teatro burlesco apelavam para a "arte clássica", encenando "Tableaux Vivants" (Quadros Vivos), onde modelos reproduziam pinturas e cenas greco-romanas, como "O Nascimento de Vênus", sem se moverem, sob o pretexto de serem "educacionais".

As europeias também foram pioneiras. No século XIX, a companhia britânica de Lydia Thompson causou furor nos EUA ao se apresentar com malhas colantes que criavam a ilusão de nudez e dançarinos de saia popularizaram o cancã. Dançarinas orientais, com a dança do ventre, também eram permitidas a usar menos roupas, sob a justificativa de ser uma questão "cultural".


Em 1931, o

National Winter Garden, o mais tradicional teatro burlesco dos anos 1930, placo do surgimento de grandes estrelas
National Winter Garden, o mais tradicional teatro burlesco dos anos 1930, placo do surgimento de grandes estrelas

contratou Gypsy Rose Lee, considerada a maior stripper da história dos Estados Unidos. Ela se destacou não só pela beleza, mas pela inteligência e bom humor, divertindo a plateia com textos espirituosos. Sua vida virou filme e musical da Broadway.

Segundo o livro de Jessica Glasscock, o verdadeiro strip-tease envolve uma tríade de elementos: revelar, provocar e divertir, com um certo distanciamento teatral entre performer e público. A criatividade das strippers era notável: algumas subiam ao palco cobertas por balões que eram estourados um a um, outras com pássaros adestrados que voavam durante o número.

Entre as lendas que marcaram época estão Ann Corio, que estreou aos 15 anos e ficou conhecida por um show "inocente" onde mostrava pouco o corpo, e Lili St. Cyr, uma ex-bailarina clássica que se destacava por criar números musicais elaborados e dramatizar o momento de tirar a roupa. Tempest Storm, uma ruiva da Geórgia, não precisava de artifícios para a fama, seus seios levavam as plateias ao delírio. Já Blaze Starr, famosa nos anos 60, também deixou sua marca.

 

O pole dance, hoje uma modalidade esportiva e artística reconhecida mundialmente, tem suas raízes firmemente plantadas no universo do strip-tease. Seu uso nas rotinas de performance começou no circo, no início da década de 1920, onde dançarinos utilizavam o poste central da tenda para realizar acrobacias, giros e descidas, que atraíam a atenção e o dinheiro do público. Aos poucos, essa interação com o poste migrou para os cabarés e clubes, tornando-se um elemento fundamental para a criação de movimentos sensuais e de grande impacto visual nas performances de strip-tease. Com o tempo, a técnica evoluiu e se sofisticou, transcendendo o contexto do strip-tease e ganhando seu próprio espaço em academias e competições.

Bettie Page para Carnival Magazine, 1953. A publicação falava de leis sobre o striptease em cada estado americano
Bettie Page para Carnival Magazine, 1953. A publicação falava de leis sobre o striptease em cada estado americano

A proibição dos teatros burlescos no auge de suas apresentações fez com que as dançarinas buscassem novos palcos em bares e cabarés. No final dos anos 50 e com a Revolução Sexual da década de 1960, o strip-tease ressurgiu com força. Ícones como

Bettie Page, a maior das "pin-ups", ganharam destaque, suas poses e fotos tornaram-se símbolos de uma feminilidade ousada e desafiadora dos padrões morais da época. As pin-ups hoje são vistas como um símbolo das conquistas femininas em relação à liberdade corporal e de expressão.

Nos anos 60, o surgimento das "gogos dancers" em casas noturnas como o famoso Whisky a Go Go em Los Angeles, também marcou uma nova era. Essas dançarinas, muitas vezes em gaiolas elevadas ou em plataformas, dançavam com roupas estilizadas e provocativas, criando um espetáculo visual que complementava a música e a atmosfera dos clubes. Embora nem sempre removessem suas roupas, sua performance era parte integrante da experiência de entretenimento noturno, adicionando um elemento de voyeurismo e excitação.

Eloína e os Leopardos, um esperáculo onde os bailarinos ficavam nús de pau duro no palco
Eloína e os Leopardos, um esperáculo onde os bailarinos ficavam nús de pau duro no palco

O Strip-Tease Masculino e a Influência de Madonna

Enquanto o strip-tease feminino dominava o imaginário, o strip-tease masculino começou a ganhar visibilidade nos primeiros clubes gays na era da libertação sexual, no final dos anos 1960. No entanto, sua popularização para um público mais amplo só ocorreu nas décadas seguintes, tornando-se uma tradição em clubes e festas ao redor do mundo.

A influência de artistas pop de grande visibilidade foi crucial para a desmistificação e popularização de temas ligados à sexualidade. Madonna, com sua ousadia, performances teatrais e exploração da sexualidade em sua arte, foi uma figura central nessa narrativa. Suas coreografias e clipes muitas vezes incorporavam elementos do strip-tease, do burlesco e da cultura de clubes, levando essas formas de expressão para o mainstream e contribuindo para uma maior aceitação e discussão sobre o tema da liberdade sexual no palco.


Não podemos deixar de falar do espetáculo de striptease masculino mais importante de todos os tempos. A "Noite dos Leopardos" marcou a história e ficou 12 anos anos em cartaz. Eloína, travesti a frente do seu tempo, que foi a primeira rainha de bateria de uma escola de samba no Brasil, ela criou e produziu o espetáculo que consistia em homens realizando striptease e que, ao fim, surgiam com pênis eretos. O show percorreu estados e países como EUA, Portugal, Espanha e Ítalia.


Izaque e Tito, meninos que fazem parte do casting de stripers do Cabaret da Cecília
Izaque e Tito, meninos que fazem parte do casting de stripers do Cabaret da Cecília

No Cabaret da Cecília, a arte do strip-tease é celebrada e reinventada há mais de sete anos, consolidando a casa como um espaço de referência para esse tipo de espetáculo em São Paulo. Às quintas-feiras acontece a Santo Nights, noite é dedicada ao strip-tease masculino, onde um casting de 30 rapazes — entre bailarinos, gogos da noite e atores pornô — se revezam em duplas e sobem ao palco com fantasias do cotidiano, como bombeiros, mecânicos, pescadores e policiais, e realizam um strip completo, circulando nus entre o público, que pode ter uma interação mais próxima. No segundo ato, o show se aprofunda com performances de pau duro, incluindo dupla penetração no palco e uma leve interação com os presentes. Já às sextas-feiras, a programação da casa adota um tom mais clássico, com shows musicais de bandas de jazz, MPB e projetos de jovens compositores, mas o ponto alto da noite são as apresentações burlescas. Bailarinas de todo o Brasil apresentam dois números por noite, que variam desde performances mais glamourosas com leques, plumas e voais, como as de Jelly Maciel, até números mais eróticos com lapdance com Miis Perez e Pandora Stardust, ou strip-tease interativo com os clientes, como fazem Ewa e a vedete Matinal. Como um verdadeiro cabaret do século XXI, o Cabaret da Cecília também abraça o strip-tease queer, com artistas de gêneros e sexualidades mais fluidas, destacando o queerlesque de Jupiter e o stripdrag, onde mulheres drag queens como Ginger Moon, giram suas tetas em performance.


Vedete Matinal, em uma de suas apresentações no Cabaret da Cecília
Vedete Matinal, em uma de suas apresentações no Cabaret da Cecília

A indústria do strip-tease, ao longo da história, enfrentou e ainda enfrenta forte condenação de grupos religiosos e governamentais, que a classificam como imoral ou exploratória. No entanto, a verdade é que "sexo vende", e com o tempo, algumas formas, como a lap dance, foram legalizadas em locais como os EUA em 1999.


O debate sobre se o strip-tease é uma forma de feminismo ou de exploração feminina é complexo e contínuo. Para muitos, é uma demonstração de autonomia e empoderamento, onde a mulher (ou o homem) controla a própria imagem, o próprio corpo e os termos da interação. Para outros, a estrutura da indústria e as dinâmicas de poder presentes ainda perpetuam estereótipos ou vulnerabilidades. O que é inegável é que a performance do strip-tease, em suas diversas manifestações, continua a ser um campo fértil para a discussão sobre sexualidade, liberdade, arte e o papel do corpo na sociedade.


De Little Egypt a Sarah Bernhardt , Ann Corio , Lili St. Cyr , Tempest Storm , e Blaze Starr, o strip-tease é uma forma de arte multifacetada que continua a provocar, divertir e desafiar percepções, mantendo seu lugar fascinante na cultura e no entretenimento mundial



 
 
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