A dimensão poética de Maria Bonomi em 90 anos de vida e arte

Desde o início de sua carreira, no início os anos 1950, Maria Bonomi investe em aproximar-se do público e se ocupar do espaço urbano. Neste sábado, 06 de setembro de 2025, não foi diferente. Uma multidão abarrotou o imponente Paço Imperial para celebrar os 90 anos de uma das mais importantes artistas mulheres da história brasileira, e mais importante artista assumidamente lésbica, uma voz fundamental na comunidade LGBT+.

Na exposição, que percorre 11 salas do espaço, podemos sentir suas paixões, seus sentimentos e perceber como Maria consegue transmitir densidade, expressividade e repertório em obras que impactam pelo jogo de cores, transparências e texturas, reproduzidas em diferentes formatos. Suas ideias vêm da percepção da natureza e do cotidiano, e os desenhos, resultantes dos sulcos da gravura, são sua matéria-prima. Nas matrizes estão as marcas da relação do artista com a matéria, do impulso e dos gestos que criam a obra, essas surgem em a partir do barro, da madeira ou do metal, multiplicadas em papel, alumínio, concreto e poliéster.

Gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa e professora, Maria é um fenômeno da natureza em extinção. Podemos ver na exposição cortes de sua vida social, sua relação com personagens que moldaram a cultura brasileira como Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Antunes Filho, Lasar Sagall, Hilda Hilst, Sergio Buarque de Holanda, Maria Adelaide Amaral, Haroldo de Campos, Claudia Andujar, Mario Pedrosa, Oscar Niemeyer, só para citar alguns. Mas quem rouba a cena é a Maria Helena Peres, sua parceira de vida há mais de 20 anos que juntas tocam o Instituto Transarte, espaço cultural com foco na arte engajada pela causa LGBT+.

A relação de amor e cumplicidade entre as duas está celebrada por todos os lados, seja em fotos, impressões de matrizes e principalmente em obras monumentais, como “Amor Inscrito”, de 2009. A obra ocupa uma grande sala na cor vermelho paixão, onde gravuras em metal de grandes dimensões flutuam pelo espaço fazendo um jogo visual de luz, sombra e amor. O amor está presente em muitas obras espalhadas pela mostra, muitas delas intituladas como “Lena”, como as monumentais xilografias e esculturas que celebram o encontro amoroso. O ato dessa paixão é explícito, como na instalação “Love Layers”, de 2007, onde a anatomia vaginal propõe uma viagem tátil em que podemos sentir a experiência erótica e fisiológica da relação.

Outro ponto de destaque importante da produção de Maria é trazido à mostra por meio de obras e fotografias. Em “Balada do Terror”, de 1970, e “Viagem para Dentro” de 1975, refletem o período mais cruel da ditadura militar no Brasil. Essas, entre outras obras tratavam das situações políticas e os sentimentos individuas, denunciando crimes e abusos cometidos contra a sociedade.

Uma grande sala repleta de fotografias de Romulo Fialdini, retratam a impressionante instalação encomendado po oscar Niemeyer para compor todo o túnel de acesso que liga a estação de metrô da Barra Funda ao Memorial da América Latina. “Etnias: do Primeiro e Sempre Brasil” talvez seja sua mias impressionante e expressiva criação, onde Maria narra a epopeia da colonização e a dizimação da população originária, imprimindo dor e suor em cor de ouro, simbolizando a riqueza gerada e retirada do Brasil à força da escravidão e da morte.

Suas gravuras monumentais e as esculturas de grandes dimensões transcendem os limites do academicismo, tornando a arte uma expressão social que dialoga com a cidade em locais públicos como igrejas, estações de metrô (como a Estação Luz e a Jardim São Paulo) e grandes avenidas, como a Paulista e Faria Lima.

Que sorte a nossa poder conviver com a dimesão poética arrebatadora dessa grande mulher! Viva os 90 anos de Maria Bonomi.

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Serviço:

Exposição: Maria Bonomi: A Arte de Amar, A Arte de Resistir

Local: Paço Imperial (Praça 15 de Novembro, Centro, Rio de Janeiro)

Quando: Até 16 de novembro de 2025